quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SONS DO SILÊNCIO

Ali estava eu... entressonhando imagens. No entanto, estas eram imagens sonoras, como aquelas que a alma humana capta junto ao murmúrio da água na pedra. Como quando nos aproximamos de uma cachoeira e ouvimos antes a sinfonia da água e já desenhamos o quadro em nossa mente antes mesmo de propriamente vermos a imagem. Sonoridades naturais. Ali estava eu, sim, vendo o som da regionalidade sulina junto à universalidade humana. Testemunhando a sensibilidade, enfim. Cada composição, criada como quem pinta um quadro, como quem cria no olhar uma paisagem pampeana... Tantos nuances de sons e imagens guardados nas gavetas da memória agora estavam ali, se mostrando. Sem alarde, posto que não era necessário nada mais do que ser e estar... ser e estar... como a água pura de um arroio caindo na pedra. Como a imagem e o som se formando na alma da gente. Eu te saúdo e te agradeço, confrade e amigo Gilberto Isquierdo, por – de certa maneira – deixares que também eu, ao te assistir e escutar, possa ter feito parte desse quadro pintado por ti. Um quadro de sons e de imagens. Água cantora para os meus ouvidos, imagem clara e inesquecível para o meu olhar.

Martim César
Inverno / 2008








APRESENTAÇÃO

O espetáculo Sons do Silêncio é um convite ao olhar interior, a observar o mais simples num tema gerador de profundas percepções. Onde o extremo efêmero do orvalho ganha intensa vida de sentidos, e a semente suicida morre para germinar. O laborar cotidiano tece a busca pela plenitude. O show une a apreciação com a vivência, possibilita sentir a estética da forma mais ampla, emaranhando som, palavra, luz e cor. Não há como estar fora do espetáculo! O contraste se harmoniza entre os opostos, pois o som e a poesia levam ao mais profundo e frio silêncio individual, enquanto a cor e a luz presentes no palco incendeiam o calor humano vindo das relações. Cada músico, com sua particularidade, é essencial na concepção sonora, onde os contrastes também estão presentes. Há um contraponto da voz grave de Gilberto com instrumentos agudos como o violino. O som traz elementos nativistas, mas vai muito além do tradicionalismo... Agrega violino, piano, cordas de aço e toma a história apenas como meio para reler os significados do hoje. O espetáculo abrange um paradoxo de "movimento estático", "contraste harmônico", assim como o "som do silêncio".
O cenário, de Otávio Augusto Lima, é composto por luz e cores que acompanham a linguagem visual do CD, refletidas com movimento, num cenário estático de tecidos, adaptável ao espaço cênico.